ESTUDIOSOS CRIAM PÍLULA QUE SUBSTITUI QUATRO REMÉDIOS E PREVINE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

 30/06/2011


"Polipílula" teve eficácia em pacientes com risco médio de infarto ou derrame e agora passa por segunda etapa de testes no Brasil e em outros países.

Uma única pílula que pode substituir quatro medicamentos na prevenção de doenças cardiovasculares em breve pode estar disponível no mercado. Os pesquisadores do Hospital do Coração (HCor/SP) acabam de finalizar, juntamente com estudiosos de outros seis países, a fase inicial de um estudo que tem a missão criar uma polipílula que previne uma das principais causas de mortes no Brasil e no mundo e é mais acessível que outros medicamentos combinados.

A polipílula teria o objetivo de prevenir problemas de risco cardiovascular moderado, reduzir a pressão arterial e controlar o colesterol. Ela combina em um único comprimido os compostos da Aspirina — que previne entupimento dos vasos sanguíneos do coração — em baixa dosagem, a Sinvastatina — controlador de colesterol — e de dois medicamentos para controle da pressão arterial Lisinopril e Hidroclotiazida (ou betabloqueador).

De acordo com os estudiosos, as vantagens do novo medicamento para pacientes predispostos a problemas cardiológicos são a adesão ao tratamento, já que é necessária uma única dose por dia, o que facilita a vida dos pacientes e o custo, que seria muito inferior ao valor dos quatro medicamentos somados.

— Na primeira fase, com início em 2006, feita em sete países, 400 pacientes com risco médio de infarto ou derrame, tomaram uma pílula por dia por quase cinco meses. Em todos esses países se viu uma redução de 60% no risco da pessoa sofrer um derrame ou infarto no futuro, além da redução da pressão arterial e do colesterol. O passo mais importante virá agora, com uma pesquisa de larga escala envolvendo um maior número de pacientes e vários centros — explica o diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do HCor e coordenador da pesquisa no Brasil, Otávio Berwanger.

No segundo semestre inicia a segunda fase da pesquisa com pacientes mais graves que já tiveram AVC e infarto. Esta etapa contempla vários estudos, com protocolo semelhantes e conduzidos simultaneamente em vários países. No Brasil o estudo será coordenado pelo HCor em parceria com o Ministério da Saúde e testará a eficácia do medicamento em duas mil pessoas em 22 hospitais do país.

— Durante um ano e meio, oito mil pessoas que já tiveram infarto ou derrame vão tomar o medicamento em quatro estudos diferentes. Só depois dessa nova pesquisa é que vai ser definida a eficácia da pílula em larga escala. A prioridade da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi desenvolver um único comprimido para as doenças cardiovasculares com baixo custo e adesão pelos pacientes. Na primeira fase do estudo tivemos resultados significativos como, por exemplo, a diminuição do risco de AVC nesses pacientes que se beneficiaram da polipílula e cerca de 90% de adesão — esclarece o médico.