ESTUDO EM PLENÁRIAS AVANÇA ENTENDIMENTO SOBRE CÉLULAS-TRONCO

Maria Fernanda Ziegler, iG São Paulo | 12/05/2011 15:20

Cientistas estão pesquisando mecanismo do animal em reconstruir cabeça e rabo para entender potencial de células-tronco em humanos




A planária, um verme em forma de seta que vive em córregos, está contribuindo para o entendimento sobre a regeneração de tecidos em humanos. O animal tem uma capacidade impressionante de recompor partes do corpo, levando cerca de uma semana para reconstruir cabeça e rabo que foram perdidos. Agora, cientistas começam a entender a receita deste poder extraordinário das planárias. A descoberta de como os animais coordenam isto é a chave para entender este potencial em tratamentos humanos.
Pela primeira vez, pesquisadores da Universidade de Cambridge conseguiram mostrar provas concretas de que planárias adultas produzem células-tronco pluripotentes. O diferencial é preponderante para a reconstrução completa do animal. A célula-tronco pluripotente é uma espécie de curinga genético, capaz de se converter em qualquer outro tipo de célula do corpo, como neurônios, músculos, células sanguíneas, por exemplo. Na maioria dos animais, inclusive humanos, as células pluripotentes só são encontradas em células-tronco embrionárias. Os pesquisadores conseguiram identificar que nas planárias estas células persistem ao longo da vida adulta.
“Esperamos que a compreensão dos mecanismos moleculares que dão às planárias a capacidade de avaliar o que deve ser regenerado e também quais são as diferenças entre organismos altamente regenerativos e organismos com menor potencial de regeneração, como os humanos, se transforme em avanços para a medicina regenerativa”, disse ao iG Peter Reddien, autor do estudo publicado no periódico científico Science. O pesquisador ressalta que a comparação pode dar bons resultados, visto que a maioria dos genes das planárias tem seus pares no genoma humano.
O segredo da planária
Os pesquisadores descobriram que células das planárias chamadas neoblastos, necessárias para regenerar seus tecidos, podem ser isoladas individualmente e colocadas em outros vermes. O poder de regeneração das planárias tem intrigado cientistas desde o século 17, mas cientistas ainda não tinham certeza de como funcionava este mecanismo, se a regeneração do animal era estimulada por todas as células-tronco ou por uma específica.

Para entender melhor os mecanismos, pesquisadores da equipe de Reddien deram uma dose de radiação nas planárias que matou células comuns. Como a regeneração era creditada aos neoblastos, a equipe de pesquisa usou uma dose de radiação baixa o suficiente para deixar algumas destas células vivas.
A equipe então transplantou clones destes neoblastos em planárias que receberam doses maiores de radiação e que não tinham seus próprios neoblastos. Como as células do doador se distinguiam das do receptor, os pesquisadores demonstraram que os neoblastos clonados e transplantados se multiplicaram e substituíram todos os tecidos do hospedeiro.

Mas a habilidade da planária não para por aí. Em outro estudo, a equipe descobriu que os animais são capazes de orientar os tecidos nos locais onde acontecem as feridas, ou perda dos órgãos. A orientação está relacionado com a ativação do gene Wnt. Eles observaram que quando a cabeça ou o rabo da planária é cortado, o gene é ativado.
“Os resultados sugerem que o animal ‘decide’ o que precisa ser regenerado, em parte pelo uso de pistas que indicam a direção da ferida”, disse, Christian Pettersen, do Instituto de Biomedicina da Universidade de Cambridge e também autor do estudo, juntamente com Peter Reddien. “Isto significa que a decisão de regenerar a cabeça ou o rabo exige sensibilidade nos locais da ferida”, disse.


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