Cientistas buscam regenerar pulmão

Cientistas americanos deram um importante primeiro passo na regeneração do tecido pulmonar a partir de células cultivadas in vitro e implantadas em ratos. Os pesquisadores da Universidade de Yale pegaram pulmões de ratos adultos e extraíram os componentes celulares existentes.

Também preservaram a matriz que continha essas células, assim como as estruturas de brônquios, das vias respiratórias e do sistema vascular, que foram logo utilizadas como base para fazer crescer novas células pulmonares.

Os autores do trabalho cultivaram posteriormente uma combinação de células mãe e pulmonares sobre a matriz e conseguiram produzir novas células pulmonares perfeitamente funcionais. Uma vez implantados em ratos, esses novos pulmões funcionaram normalmente de 45 a 120 minutos, indicaram os pesquisadores.
FONTE: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2949819.xml&template=3898.dwt&edition=14959&section=1003

Análise: Stevens Rehen comenta receita segura para criar célula-tronco

Matéria publicada em: 22/06/2010

Nova reprogramação produz ‘célula faz-tudo’ sem risco de causar câncer.
Brasileiros adicionam novo gene à lista dos promotores da conversão.

Em época de Copa do Mundo é impossível não falar de futebol, Shinya Yamanaka que o diga.




Na semana passada, o cientista iniciou sua palestra no Congresso da Sociedade Internacional para a Pesquisa sobre Células-Tronco em São Francisco (EUA) comentando, satisfeito, a vitória do Japão sobre Camarões.

Yamanaka estava de bom humor não só pelo resultado do jogo de estreia da seleção de seu país, mas também porque apresentaria uma receita mais segura para gerar células-tronco de pluripotência induzida (iPS).

Fotomicrografia com células-tronco embrionárias humanas cultivadas no Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias - Rio de Janeiro (Foto: Cleide Souza/LaNCE-RJ)


Em 2006, o cientista japonês surpreendeu o mundo ao anunciar a criação de células capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo, utilizando para isso um punhado de pele, um vírus e 4 genes cujos produtos são encontrados exclusivamente em embriões.

Esse genes, quando introduzidos em fibroblastos oriundos de pequenas biópsias de indivíduos adultos, transformaram-nos em células-tronco tão versáteis quanto as cobiçadas células-tronco embrionárias.

Com o advento das iPS, uma verdadeira revolução foi iniciada e perspectivas até pouco tempo inimagináveis para as ciências biomédicas começaram a surgir. 


No futuro é provável que as células iPS facilitem a descoberta de novos medicamentos e sejam utilizadas para criar órgãos para transplante sob medida, sem o risco de rejeição.

O coquetel original de Yamanaka para a reprogramação celular incluía os genes oct-4, klf-4, sox-2 e C-myc. Este último é o calcanhar de Aquiles da técnica: é um importante facilitador do processo de reprogramação, mas leva à formação de tumores.

Desde a última Copa do Mundo Yamanaka tenta contornar esse problema, e pelo visto acaba de conseguir. O novo coquetel de genes, apresentado pela primeira vez em sua conferência, inclui os mesmos oct4, sox2 e klf4, mas substitui o famigerado C-myc por um gene com função semelhante – porém não relacionado ao câncer –, o L-myc.

A equipe de Yamanaka fez essa substituição (C-myc pelo L-myc) e aproveitou para silenciar p53, um gene que interfere negativamente com o fenômeno de reprogramação. As células iPS geradas com a nova técnica são mais seguras do ponto de vista terapêutico do que a primeira versão de iPS, já que eliminam o problemático C-myc. Além disso, passaram pelos testes de qualidade que indicam a capacidade de formar qualquer tecido do corpo, da mesma forma que células-tronco provenientes de embriões.

Deepak Srivastava, do Instituto Gladstone de São Francisco, também marcou um golaço ao anunciar a geração de cardiomiócitos a partir de fibroblastos de camundongos.
Ajudado por vírus com papel de cavalos de Tróia, levou para dentro das células da pele genes importantes para o desenvolvimento cardíaco. Em alguns dias apareceram as primeiras células pulsantes que lembraram um coração em plena atividade.

Em outras palavras, Srivastava converteu pele em coração sem um entreposto, sem precisar que os fibroblastos da pele retornassem ao estágio embrionário, como acontece no caso das iPS.

Imagine que, a longo prazo, o coquetel desenvolvido por Srivastava e equipe poderá ser injetado em pessoas com problemas cardíacos, favorecendo a regeneração de um coração combalido.

Em janeiro desse ano, Marius Wernig, da Universidade da Califórnia, havia anunciado façanha semelhante, transformando células da pele de camundongos em neurônios. Tanto Srivastava quanto Wernig ainda não conseguiram repetir o feito com células humanas, mas para muitos, entre os quais este que vos escreve, é questão de tempo.


Brasileiros identificam novo gene conversor


Quem também fez bonito recentemente foi a equipe do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terapia Celular de Ribeirão Preto.


O time de pesquisadores liderado por Dimas Covas descreveu um novo gene capaz de facilitar a reprogramação de células da pele. Tcl1a está presente em células-tronco embrionárias e foi associado à progressão de linfomas. Quando combinado a C-myc e sox-






2, “forçou” a reprogramação parcial de fibroblastos humanos. 
O processo demora pouco mais de duas semanas. 
É metade do tempo necessário para uma reprogramação plena utilizando-se a receita original descrita por Shinya Yamanaka. 
Apesar das células da equipe da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto não poderem ser consideradas iPS genuínas, o trabalho acrescenta um novo gene na lista daqueles que promovem a reprogramação celular. 
Não menos importante, trata-se do primeiro artigo científico do país sobre o tema, dentre os 526 publicados em todo o mundo até hoje. 
Com tantas histórias de sucesso só nas últimas semanas, a copa do mundo da pesquisa científica segue com média de gols superior ao torneio de futebol da África do Sul.

* Neurocientista, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ

Portadores de necessidades especiais no PR ganham passe livre



Matéria Publicada em: 23/06/2010

Beneficiados são portadores de deficiência e doenças crônicas que tenham renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo nacional.




Portadores de doenças crônicas e deficientes físicos que ganham até 1,5 salário mínimo nacional podem viajar de graça dentro do Paraná. A Secretaria dos Transportes começou a cumprir nesta segunda-feira (21) uma lei estadual que garante esse benefício e, para isso, passou a emitir o passe livre. O cadeirante José Elias Bulhões, que há seis anos depende da cadeira de rodas para se locomover, foi a primeira pessoa no estado a receber a carteirinha. A entrega foi feita pelo secretário dos transportes, Mário Stamm Junior.

De acordo com o telejornal ParanáTV 2ª Edição, da RPCTV, para poder usufruir do benefício, não basta ir até a rodoviária. O portador da carteirinha precisa agendar a viagem com pelo menos 24 horas de antecedência. Para Bulhões, muitas oportunidades podem surgir para os portadores de deficiência ou doentes crônicos.


Documento

Tem direito ao passe livre portadores de deficiência física, de insuficiência renal crônica, em terapia renal substitutiva, câncer em tratamento por quimioterapia ou radioterapia, transtornos mentais graves em tratamento continuado, portadores de HIV, mucoviscidade em atendimento continuado, hemofilia e esclerose múltipla.

Os interessados em receber o benefício devem procurar o serviço de assistência social do município, para fazer a avaliação sócio-econômica. A pessoa também precisa de um laudo médico que comprove a necessidade especial e que pode ser obtido por meio de avaliação no Sistema Único de Saúde (SUS). Com esses documentos em mãos, é preciso preencher um formulário de requerimento do Passe Livre Intermunicipal no site da Coordenadoria dos Direitos da Cidadania.

Na sequência, esses documentos são encaminhados ao Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Coede), com uma fotografia 3 x 4 e uma fotocópia do documento de identidade. Para as linhas intermunicipais, a reserva deve ser feita com antecedência, mas para ônibus metropolitanos, o documento de isenção pode ser apresentado diretamente ao cobrador. A isenção de tarifa também é válida para um acompanhante, desde que seja comprovada a necessidade.



Planos de saúde vão incluir 70 novos procedimentos em junho; veja os novos serviços

Matéria Publicada em: 12/01/2010

Os planos de saúde deverão incluir cerca de 70 novos procedimentos médicos e odontológicos a partir de 7 de junho de 2010, segundo determinação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) publicada nesta terça-feira no "Diário Oficial da União". Entre os procedimentos inclusos está o transplante de medula óssea.

A nova norma atualiza os procedimentos inclusos na cobertura mínima obrigatória oferecida pelas operadoras de planos de saúde a todos aqueles que possuem contratos celebrados a partir de 2 de janeiro de 1999 --data em que entrou em vigor a lei de regulamentação do setor de saúde suplementar.
Além do transplante de medula óssea, também passam a estar inclusos nos planos básicos o exame Pet-Scan --usado para diagnosticar câncer--, implante de marca passo multissítio, oxigenoterapia hiperbárica e mais de 20 tipos de cirurgias torácicas por vídeo.
Ao todo, cerca de 44 milhões de pessoas, que adquiriram planos de saúde a partir de janeiro de 1999, serão beneficiados pelas mudanças da cobertura dos planos. Segundo a ANS, em todo o país, existem mais de 54 milhões de pessoas com planos de saúde, sendo cerca de 1.500 operadoras de planos em atividade.
Além da inclusão de cerca de 70 procedimentos médicos nos planos, também passam a valer em junho outras normas como a cobertura pelos planos coletivos aos acidentes de trabalho e aos procedimentos de saúde ocupacional.
Outra mudança é o fim da limitação de 180 dias de atendimento em hospital-dia para pacientes com necessidade de acompanhamento da saúde mental. De acordo com a ANS, a medida visa substituir as internações psiquiátricas.
Reprodução/ ANS


Concursos públicos no topo das reclamações



Matéria publicada em: 07/06/2010






RIO - A ideia de estabilidade de emprego e um bom salário tem levado mais brasileiros a buscarem a carreira pública. No entanto, a grande quantidade de concursos, muitas vezes preparados às pressas, têm causado inúmeros problemas, fazendo com que os candidatos recorram à Justiça. Levantamento do Ministério Público do Estado do Rio mostra que os concursos públicos estão em primeiro lugar na lista de reclamações à Ouvidoria. Em cinco anos, foram 100 mil registros em todo o estado, dos quais 9.106 são referentes a concurso. Ou seja, 9,12% do total.
Nos últimos doze meses, também cresceu, de modo assustador, a quantidade de denúncias dirigidas à Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) envolvendo os concursos públicos. São inúmeros e-mails por dia dos candidatos denunciando irregularidades nos editais.


-Cerca de 95% dos emails recebidos pela entidade são de denúncias e "aberrações" cometidas pelas bancas examinadoras - afirma o presidente da entidade, o professor Ernani Pimentel, acrescentando ainda, que o problema se agravou por causa do aumento no volume de concursos nos últimos cinco anos e no número de inscrições que é da ordem de 12 milhões por ano.
- As bancas não estão dando conta da grande demanda de concursos, o que prejudica o andamento dos certames e abre brechas para irregularidades - completa.
Paulo Estrella, diretor da Academia do Concurso, se surpreendeu com o volume de reclamações, mas, após refletir melhor, viu que o percentual era mais do que o esperado, levando-se em conta que cada candidato a uma vaga no serviço público coloca sobre essa seleção a sua vida e investe tudo que pode nela.
- Quando algo dá errado, esse candidato se sente muito mais injustiçado. Perdeu a oportunidade da sua vida depois de investir dinheiro e tempo se preparando. Com isso, o candidato terá muito mais ímpeto de levar adiante uma denúncia ou reclamação do que qualquer outro tipo de consumidor.
Estrella não acredita, no entanto, que esse ranking seja proporcional ao volume de problemas, mas sim ao peso que tem na vida do candidato. Segundo ele, concursos muito procurados, como o da Caixa Econômica, por exemplo, têm mais chances de apresentar problemas pela dificuldade de operacionalização do processo.
- Quanto maior o concurso, maiores serão as chances de encontrarmos candidatos que se ressintam de algo e que fazem reclamações. Na visão desse candidato, vidas foram negligenciadas quando há algum problema que o impeça de fazer as provas, por exemplo.
Para Carlos Eduardo Guerra, especialista em concurso e ex-presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), apesar de os concursos estarem no topo do ranking ser algo impressionante, é importante salientar que é pequeno, percentualmente, o número de reclamações em relação ao quantitativo de candidatos e vagas.
Carol Machay, 30 anos, foi uma das atingidas. Ela passou em 1º lugar no concurso para a Casa da Moeda, mas não foi chamada. O concurso, realizado em 2005, tinha validade de dois anos e foi prorrogado por mais dois. Passado os quatro anos, o prazo expirou e Carol ficou sem a vaga. No entanto, ela não entrou na Justiça, pois a seleção era para cadastro de reserva:
- Não adiantava, pois mandado de segurança não se aplica aos casos de cadastro de reserva, somente para vagas efetivas.
Jorge Ruas, ex-sargento do Exército, foi impedido de fazer a prova para a Polícia Rodoviária Federal, em 2009, por não constar da lista de candidatos escalados para a Universidade Gama Filho, na Zona Norte. Jorge afirma ter recebido uma mensagem pelo celular confirmando o local, mas, ao chegar à universidade, ninguém da organização sabia dizer onde seria a prova. Pela internet, verificou-se que seu nome constava de outra lista, em uma outra unidade. Depois de muita confusão, Ruas e um grupo de candidatos foram levados para uma sala onde supostamente iriam prestar o exame.
- Depois de duas horas, uma pessoa finalmente apareceu para aplicar a prova. Mas não havia nenhuma segurança, pois nem a prova, nem o cartão-resposta, tinham qualquer identificação. Quem garante que o material seria corrigido? O mais provável era que fosse jogado fora.
Diante da situação, novo tumulto e a maioria se recusou a fazer a prova. No fim, todos foram levados para uma unidade da Polícia Federal. O concurso foi suspenso por determinação do Ministério Público Federal, mas até agora há um impasse na Justiça.
- Alguns candidatos, como é o meu caso, entraram com uma notícia-crime, outros procuraram advogado e o Ministério Público. Continuamos aguardando uma solução. É revoltante, nem o dinheiro da taxa de inscrição nos devolveram. Queremos transparência, justiça por parte da Justiça. Não posso ser omisso e não me calo diante das irregularidades - afirma Ruas.
Tyfany Fiks também foi uma das vítimas dos erros dos concursos. Ela se inscreveu para o concurso da Guarda Municipal, que previa vagas para pessoas com deficiência física.
- Eram 50 vagas para deficiente, passei em quarto lugar - lembra Tyfany, diagnosticada com esclerose múltipla aos 14 anos, e que não foi convocada sob a alegação de que não era considerada portadora de deficiência. Com base na Lei 40.950, de 2008, que reconhece como portador de deficiência portadores de doença degenerativa ou crônicas, como é o caso da esclerose múltipla, Tyfany provou que se encaixava nas regras do edital. A organização do concurso reconheceu o erro e ficou de chamá-la para ser avaliada por uma junta médica por telefone. Mas isso não aconteceu. A convocação foi feita via internet, e ela acabou perdendo o prazo e a vaga. Agora, Tifany está entrando na Justiça com um processo por danos morais.  

Células estaminais neurais no caminho da reparação cerebral









Um grupo de 14 investigadores do Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra está a desenvolver um trabalho na área da "reparação cerebral". Se as expectativas se confirmarem, a utilização de células estaminais neurais poderá significar um passo à frente no tratamento das doenças neurodegenerativas.




As doenças do cérebro, no seu conjunto, afectam, actualmente, milhões de pessoas em todo o mundo. Estas patologias, para as quais ainda não existe uma cura efectiva - além de serem uma das principais causas de sofrimento - consomem uma fatia elevada do orçamento em saúde. Até ao momento, as estratégias terapêuticas desenvolvidas visam, apenas, o alívio dos sintomas, não garantindo a recuperação da zona cerebral afectada.

Movidos pelo objectivo de encontrar uma solução para esta lacuna, 14 investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra (CNC) - nove doutorados e cinco alunos de Doutoramento - desenharam uma metodologia de reparação cerebral, com recurso a nichos de células estaminais neurais (residentes em duas zonas do cérebro). João Malva, coordenador deste grupo e investigador principal da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e do CNC, acredita que, no futuro, este trabalho poderá abrir caminho à substituição de "células degeneradas por novas células", com capacidade de desempenharem as funções cerebrais perdidas.

Volvidos vinte anos após a descoberta de nichos de células estaminais neurais, em cérebros de recém-nascidos e adultos - embora, nestes últimos, tenda a diminuir com a idade -, os cientistas aperceberam-se de que a chave para algumas doenças poderia radicar na utilização destas células.

O grupo coordenado por João Malva agarrou esta ideia e lançou as bases de um projecto, cuja principal aposta foi a identificação de estratégias neuroprotectoras e neurogénicas conducentes à reparação cerebral.

As células estaminais neurais, por serem imaturas e relativamente plásticas, têm um potencial de diferenciação em vários tipos celulares e expandem-se indefinidamente. "Quando multiplicadas e pré-tratadas in vitro, com um factor que promove a diferenciação, poderão ser posteriormente transplantadas para a zona lesada do cérebro", afirma o investigador. E continua: "Se, conceptualmente, percebermos o mecanismo de diferenciação, podemos induzir estratégias de migração para as zonas cerebrais onde se registam défices de neurónios."

Apesar de ainda não passar de uma mera "ficção científica", usando as palavras do investigador, a longo prazo, está prevista a utilização deste método em patologias mais simples, como a doença de Parkinson ou Esclerose Múltipla. Mais tarde, em "patologias mais complexas, nomeadamente a epilepsia, lesões isquêmicas cerebrais e a doença de Alzheimer". 
 João Malva ressalva, no entanto, que "a aplicabilidade destes conceitos" ainda está longe de ser alcançada. Por ora, os investigadores estão interessados em conhecer a fundo a biologia e o comportamento destas células.


CSI: Cérebro Sob Investigação

Com base em modelos de experimentação animal, os investigadores estão a percorrer todos os passos na manipulação destas células estaminais neurais. Recorrendo a culturas in vitro destas células, extraídas de ratos, o grupo de investigação está a tentar perceber como é que, através do processo de diferenciação, se formam novos neurônios.

É, ainda, objecto de estudo o modo como os recém-formados neurónios "migram dentro do cérebro, como estabelecem sinapses (conexões entre neurónios) e, a partir daí, como se integram funcionalmente nas redes". Concluídas estas etapas, os investigadores estarão, "finalmente, na posse de ferramentas que lhes permitam, caso a caso, desenhar estratégias de reparação cerebral".

No âmbito desta investigação, os especialistas desenvolveram uma tecnologia, inédita em todo o mundo, que se baseia "na análise de flutuações de cálcio intracelular em células individuais".

Mediante a aplicação de fármacos, verificou-se que as células respondiam de forma diferenciada aos estímulos. A partir desta observação, e conhecendo o perfil de resposta das células e os seus marcadores, conseguiram identificar funcionalmente diferentes tipos de células: neurónios, astrócitos e oligodendrócitos. "Estas conclusões abrem uma nova linha de investigação na farmacologia da neurogénese e na identificação de factores pró-neurogénicos, permitindo-nos descortinar de que forma as células podem ser afectadas positivamente por alguns fármacos", defende.

Paralelamente à experimentação in vitro, os investigadores estão a estudar a reparação in vivo. Para isso, utilizaram um modelo de animal epiléptico, que apresenta morte cerebral no hipocampo.

Nesta área, foram transplantadas células estaminais neurais fluorescentes, retiradas de ratos transgénicos, e tratadas com factor próneurogénico, de forma a induzir a diferenciação.

"Reparámos que as células têm capacidade de integrar o tecido, embora, pelo menos para já, não possamos ainda avaliar o sucesso do processo de diferenciação funcional de novos neurónios."

Considera o especialista que estas "células são ainda muito enigmáticas", o que deixa muitas hipóteses em aberto. Porém, "esta fase de investigação levanta uma esperança na utilização futura das células estaminais neurais em seres humanos".


Principais células cerebrais

- Neurónios: principais células funcionais do cérebro, que cooperam em redes integradas. Os neurónios conduzem a actividade eléctrica de umas células para as outras e libertam mensageiros químicos, que produzem respostas entre células. "É o funcionamento integrado destas redes de neurónios que é responsável pela essência do funcionamento do cérebro e, em última análise, pelo controlo de todas as funções do corpo humano", defende João Malva.

- Astrócitos: células que ajudam os neurónios a manterem-se vivos. São uma espécie de "limpa impurezas", porque "removem o excesso de moléculas neurotransmissoras que se acumulam nas sinapses (ligações entre neurónios)". Esclarece o investigador que, "com as sinapses livres, a comunicação flúi mais rapidamente", adiantando, ainda, que "os astrócitos são também essenciais no complemento metabólico dos neurónios".


- Oligodendrócitos: são as células que ajudam os neurónios a conduzirem a informação nervosa de modo mais eficiente. Os neurónios - responsáveis pelo envio de mensagens dentro do próprio cérebro e na sua ligação com os sistemas periféricos - possuem uma estrutura especializada, os axónios. "Estes estão incumbidos de enviar sinais eléctricos de uma célula para a outra. Acontece, porém, que quando a distância entre célula emissora e célula receptora é muito grande a velocidade de condução do sinal através do axónio pode tornar-se limitada". Assim, os oligodendrócitos formam uma camada gordurosa à volta dos axónios: a mielina. Esta possui funções semelhantes à camada isoladora do fio de cobre de um telefone. Contudo, esta "mielinização processa-se de forma irregular, com intervalos não isolados". Os sinais eléctricos "saltam" entre os nódulos não mielinizados, "o que permite o envio mais rápido de mensagens em zonas distantes do cérebro. A degeneração e morte dos oligodendrócitos está na base do desenvolvimento da esclerose múltipla", explica João Malva.

- Microglia: "são as principais células de defesa imunitária do cérebro", diz o investigador, adiantando que estas "desempenham um papel central em vigiar e assegurar um bom estado funcional do parênquima cerebral". Em resposta a "uma agressão estas células reagem e combatem o agente agressor de modo a limitar os estragos provocados nas redes neuronais", esclarece.


Células Estaminais: uma nova forma de vida

As células estaminais neurais existem, sobretudo, em duas grandes zonas do cérebro: região subventricular e região sub-granular do gyrus dentado do hipocampo. A primeira região "é responsável pela produção de novos neurónios envolvidos na discriminação do odor", afirma João Malva, indicando que estas foram as células utilizadas na investigação. As células da região sub-granular do gyrus dentado, adianta o investigador, "poderão estar envolvidas em processos de produção de memória". Por serem imaturas, as células estaminais cerebrais possuem a particularidade de se diferenciarem nos principais tipos celulares existentes no cérebro, "nomeadamente os neurónios, astrócitos e oligodendrócitos", resume.


BI: João Malva

Cargo: Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurociências

Formação: Doutoramento em Biologia Celular, Universidade de Coimbra

Idade: 43 anos